Carta Aberta do seu Departamento de Som
- Por Fabio Carneiro Leão
- 1823 visualizações
Escrita por John Coffey, com a ajuda de Randy Thom, Jeff Wexler, Noah Timan, Mike Hall, John Garrett, Scott Smith, Rob Young, Mike Filosa, Wolf Seeberg, Darren Brisker, Charles Wilborn, Todd Russell, Brydon Baker, Larry Long, Glen Trew, Dave Schaaf, Charles Tomaras, Klay Anderson, Brian Shennan, Hans Hansen, David Marks, Bob Gravenor, Von Varga, Mark Steinbeck, Carl Cardin, Eric Toline, Joseph Cancila, Stu Fox, Peter Devlin, Matt Nicolay e muitos outros.
Tradução de Antonio Carlos Muricy.
Esta carta foi escrita por profissionais de audio (dos Estados Unidos - N. do T.) para ajudar diretores e produtores a entender como pode ser gravado um bom som direto no set de filmagem. Queremos ajudar você a fazer o melhor filme possível.
Neste texto nós não vamos discutir as técnicas de gravação e mixagem no set, uma vez que este é o “abracadabra” de nossa função, algo que vocês confiam em nós para fazer.
O que nós queremos é que você tenha informações que permitam que você avalie o que está interferindo com a qualidade da gravação do som direto, antes que seja tomada uma decisão precipitada que possa prejudicar a qualidade do som do seu filme. Para que você tome uma decisão correta, você precisa saber dos obstáculos que o pessoal do som enfrenta, antes mesmo de começar a ter um som de qualidade no set que possa ser gravado.
Afinal de contas, estamos na era do som digital. As salas de cinema têm o som maravilhoso do sistema THX (o público ESTÁ ouvindo!) e do Dolby Digital! Temos ainda o sistema SDDS 5.1 com som surround. Os sistemas caseiros de Home Theater muitas vezes têm um som melhor do que o das salas de cinema, pois o público mais sofisticados já pede DVDs com som 24 bits. No entanto, o som direto, na sua fonte, no set, está sofrendo como nunca.
O PROBLEMA
Nós, sua equipe de som, somos as pessoas de quem você depende para criar e proteger AS SUAS pistas sonoras originais – o som direto - durante a filmagem.
Diferentemente do trabalho da maioria das pessoas que estão trabalhando para a criar algo para a imagem, o trabalho do Técnico de Som não pode ser “visto” no set. Praticamente ninguém ouve o som que o microfone está captando. Muito poucos sabem de fato até mesmo O QUE é que nós fazemos. E apenas os sons obviamente piores são levados em consideração.
Faz parte do nosso trabalho monitorar o set para evitar ações ou omissões desnecessárias, acidentais, ignorantes, e às vezes até maldosas, que possam comprometer o som direto. Vamos enfatizar este ponto: FAZEMOS ISTO PARA VOCE TER O MELHOR SOM POSSÍVEL. NÃO É PARA NÓS MESMOS.
Demasiadas vezes nós ficamos frustrados pelas condições que existem hoje em dia na maioria dos sets. Muitas vezes se espera que nós solucionemos todos os problemas do som sozinhos. Ao contrário, esta tarefa deveria ser um esforço conjunto com os assistentes de direção, e os outros membros da equipe.
Os Técnicos de Som muitas vezes são olhados como pragas ou até mesmo como um obstáculo ao andamento da filmagem. Não gostamos de ser colocados nesta posição insustentável porque ela é humilhante e desnecessária. Não gostamos de ser considerados como adversários pelo resto da equipe e com certeza não queremos ser “a polícia do som”!
Numa filmagem difícil, há uma boa possibilidade de um Técnico de Som que luta sozinho para lhe dar um bom som torrar a paciência com tantas desculpas e defesas colocadas. É muito duro conseguir resolver tudo sem apoio. A tentação é a de se render à pressão e simplesmente se deixar levar, e nada de bom pode vir quando algo assim acontece.
Os problemas que encontramos podem lhe levar a acreditar que um bom som não pode ser conseguido sem interrupções de filmagem e sem aumento de custos. Isto não aconteceria se medidas razoáveis fossem antecipadas e executadas por você tanto durante a pré-produção quanto durante a filmagem.
Conhecemos as limitações de nosso equipamento. Por exemplo, microfones são apenas ferramentas, eles não fazem milagres acontecer. Se os problemas de áudio no set não são resolvidos imediatamente, eles simplesmente voltarão a assombrá-lo na pós-produção.
Você pode nos ajudar a fazer um trabalho melhor para você. Um bom som pode freqüentemente ser conseguido tendo uma razoável preparação para evitar as armadilhas.
Para isso precisamos da sua compreensão e do seu apoio.
ANTES E AGORA
Para entender o estado das questões do áudio hoje em dia, você precisa voltar atrás no tempo. Antigamente existia um sistema nos grandes estúdios, que era como uma linha de montagem em que várias funções trabalhavam juntas para realizar produtos fílmicos. Em qualquer estúdio que você trabalhasse, todos os profissionais sabiam que deveriam tomar as medidas dentro do seu alcance para possibilitar boas gravações de som. Isto era colocado como parte integrante do seu trabalho. Estes deveres eram passados aos jovens aprendizes. Os iluminadores cortavam as sombras de microfone com bandeiras ou gobos. Os eletricistas trocavam uma lâmpada que zumbisse. Os assistentes de câmera faziam tudo o que fosse possível para resolver o ruído de câmera e muitas foram as vezes que um operador de câmera colocou cobertores e travesseiros cobrindo ele e a câmera barulhenta. Todas as outras funções faziam qualquer coisa que fosse lógico para ajudar a gravar um bom som, porque isto era considerado como parte do trabalho deles. Não era preciso convencer ninguém a fazê-lo. Era um tempo em que a cooperação lógica com o Departamento de Som era o jeito normal, comum, de fazer bons filmes.
Os profissionais de hoje ainda têm orgulho por suas funções, mas parece que eles NÃO CONSIDERAM MAIS que ajudar o som é parte de seu trabalho. Os problemas começaram quando o sistema de treinamento interno dos estúdios foi se fragmentando na medida em que os filmes independentes não sindicalizados proliferaram (no sistema americano de produção existem filmes e produtoras que fazem parte do sindicato de produtores, especialmente os grandes estúdios, e que seguem normas estritas de produção e de remuneração. Os filmes independentes são produzidos fora deste esquema e seguem suas próprias regras – N do T).
Ao longo do caminho, o processo de aprender o que cada função representava mudou também a maneira com que eles percebiam o som. Os outros departamentos agora não pensam mais que eles devem ajudar a VOCÊ a conseguir ter um bom som para o SEU filme. Não há mais um sistema de aprendizado, uma escola para passar adiante este conhecimento. Agora se aprende a trabalhar no fogo, por osmose.
Agora é preciso se pedir a cada instante que se façam coisas que são lógicas, que são necessárias para proteger O SEU som, simplesmente porque os outros departamentos não consideram mais que isto seja parte do trabalho deles. O Departamento de Som teria a maior satisfação em cortar a sombra na parede do fundo ou em cobrir uma câmera barulhenta por conta própria, mas as regras do jogo não são essas. Ao invés disto, temos convencer, bajular, ameaçar, pedir ou usar qualquer técnica psicológica de persuasão possível para fazer os outros departamentos nos ajudar a prevenir problemas sonoros.
Aquele último segundo que resta no meio da correria deveria servir para resolver problemas inesperados que fatalmente acontecerão. Ao contrário, neste último segundo é que o Técnico de Som descobre que houve mudanças no diálogo, na marcação dos atores e da câmera ou que há barulhos indesejáveis dentro ou fora do set.
Todos os outros departamentos trabalham para o que é visto e não para o que se ouve. Cada pessoa da produção, do maquiador ao eletricista e o contra-regra se concentra exclusivamente com o que é visto no viewfinder da câmera.
Como todos os outros departamentos trabalham apenas para a imagem, ninguém se preocupa com o que está acontecendo com O SEU som.
Você é a única pessoa no set com o poder de nos permitir conseguir um bom som para você. É sempre uma tentação para o som desistir de remar contra a maré quando se enfrentam barreiras intransponíveis.
Em breve as escolas de cinema vão precisar acrescentar cadeiras de psicologia aos cursos de captação de som. Freqüentemente a situação fica assim ruim. É por isso que queremos que você conheça o máximo possível sobre o campo minado do som que existe escondido em todo set.
O que pode parecer a você apenas um monte de reclamações, na verdade simplesmente é a comunicação de fatores negativos, para que você saiba o que esta sendo gravado no seu som direto, e quais os problemas de som que podem ser resolvidos AGORA. No final das contas, estas são AS SUAS escolhas. Só porque escutamos um ruído isto não quer dizer que haja um problema de som. É seu problema também. Afinal, nós lhe entregamos as fitas no fim do dia.
Depois de ler esta carta, esperamos que seja muito mais fácil para você tomar decisões conscientes sobre qual é realmente a melhor hora de optar por dublar um plano. Na pós produção é tarde demais para se consertar uma tragédia sonora.
Embora este assunto seja o último na cadeia de eventos, devemos começar primeiramente falando porque dublar não é uma solução.
DUBLAGEM
“Ë importante que você compreenda a gravidade e as conseqüências criadas quando as palavras “Vamos dublar” são ditas.
Você certamente sabe que dublagens adicionais criam uma sobrecarga financeira para o seu orçamento, mas as conseqüências vão muito além disto. Dublar é uma solução para situações em que todo o resto falhou! Não é uma solução rapidinha para depois se os problemas originais do set poderiam ter sido facilmente resolvidos com um pouco mais de tempo, conhecimento ou comunicação. Dublar significa que você também está fazendo um imenso compromisso artístico que prejudica o filme de tantas outras maneiras que você pode nem estar se dando conta.
Obviamente você sabe que a performance do ator é sempre melhor no set do que numa cabine de dublagem. Fazer um filme é uma realização artística que vive para sempre. Você contrata grandes atores para colaborar criativamente com o seu filme e aí você perde a essência da cena dublando o diálogo! A voz de um grande ator totalmente caracterizado, movendo-se e interagindo com outros atores num espaço tridimensional é um tesouro. Dá vida ao filme.
Claro que a dublagem terá menos ruídos de fundo do que mesmo a melhor gravação de som direto realizada com as câmeras rodando, mas de fato sabemos que ela perde toda a espontaneidade, toda a verdadeira emoção que é registrada quando os atores colocam todo o seu talento no set. Isto não pode ser duplicado, recuperado. Dublar não é atuar. Os maiores e melhores atores todos odeiam dublar, e no máximo, a dublagem é apenas uma recriação aproximada da cena original.
Dublar também come muito do dinheiro restrito e do tempo apertado de uma finalização que seriam muito melhor aproveitados utilizando-se as ferramentas mágicas da finalização para o enriquecimento do filme.
Quando não há outro jeito senão dublar, a nova maneira de pensar de muitos profissionais respeitados de pós-produção (como Randy Thom, do estúdio Skywalker) é a de se dublar imediatamente no set ou perto dele e tão logo quanto possível depois da cena rodada. Estes profissionais sabem que a performance do ator será melhor logo depois de rodar a cena e que o som será mais natural se for feito no mesmo ambiente e local depois que se resolverem as fontes de ruído. Existem companhias especializadas (nos EUA – N.T.) em dublagens no set utilizando-se as fitas do vídeo-assist para gerar imagens em estúdios portáteis.
Dublar geralmente é uma forma de se tirar o corpo fora. Tenha certeza de que o problema de áudio não pode ser resolvido ANTES que você tome uma decisão da qual se arrependerá depois. Nunca deixe que a simples impaciência de um momento seja a sua real razão para dublar um plano! Tenha certeza de ter esgotado todas as alternativas lógicas.
PROBLEMAS DE SOM NO SET
A maioria das coisas que arruinam um som direto são totalmente previsíveis e acontecem a cada vez que se filma, filme após filme, ano após ano.
Estes problemas são claramente identificáveis e quantificáveis. A diferença entre ter um bom som e um som ruim são freqüentemente determinados por quantos destes previsíveis fatores negativos acontecem na sua filmagem e como eles são manuseados.
Existem muitos poucos problemas que não têm solução se os cuidados são tomados previamente. O Técnico de Som é o seu advogado aqui. Vamos tentar identificar os problemas de som que cada departamento pode trazer para o seu filme.
PRÉ-PRODUÇÃO
O bom som começa por se antecipar os problemas desde cedo. Comunique-se freqüentemente e desde o início da pré com o seu Técnico de Som. Pague ao técnico para ir ouvir os problemas potenciais dos sets bem no início. Deixe eles gravarem ambientes dos sets para ver o que pode ser resolvido na finalização. Faça isto antes das locações serem amarradas e antes de levar os outros chefes de departamento lá. Se o técnico estiver em outra filmagem, peça que ele indique um profissional confiável para ir lá no lugar deles. No final, é uma economia que você está fazendo.
LOCAÇÕES
Aqui se pode fazer mais para salvar o som de um filme do que em qualquer outro departamento. Ao se escolher os sets deve-se considerar o som. Pelo menos pese os fatores de ruído do ambiente! Só pedimos que tenham um mínimo de consideração para prováveis problemas de audio. Freqüentemente rodamos num lugar que poderia facilmente ter sido substituído por outra locação ou então em outro dia, como num fim de semana. Muitas vezes rodamos em locações que têm obras, tráfego, escolas, passagem de aviões e outros ruídos de fundo que são bastante óbvios. Só filme nestas locações se for absolutamente necessário e essencial para o filme.
Resolva todos os problemas de som antes de irmos para o set.
-
Sempre considere o controle do ar-condicionado. Isto é fundamental! Sem o controle do ar condicionado, o som ambiente e o ruído de fundo mudará cada vez que o ar ligar e desligar. Se for um edifício grande, tenha alguém com um walkie-talkie para ligar o ar de volta de pois de cada take. No exterior também é muito importante desligar todos os aparelhos que estejam próximos do set.
-
Controle todos os aparelhos barulhentos em sets como bares, escritórios e hospitais. Todos os computadores, geladeiras, freezers, aparelhos de raios-x devem poder ser desligados. Em locações como bares e restaurantes e escolas, tente programar as filmagens para horários vagos ou fins de semanas sem atividade. Evite telhados de zinco durante a estação de chuvas. Tenha certeza de que mesmo após serem colocados os cabos da elétrica as portas, janelas e aberturas possam ser fechadas.
DEPARTAMENTO DE ARTE
-
Cheque com o Departamento de Som quando colocar móveis, computadores e máquinas barulhentos no set.
-
Leve em consideração a operação dos microfones em varas de booms pelo alto antes de construir tetos baixos, luzes penduradas, lustres e fachos de luzes cruzadas.
-
Injete espuma em escadas construídas e nos degraus para eliminar barulhos sobre o diálogo.
-
Sempre que possível coloque carpetes e cortinas para “enxugar” a reverberação de ambientes ecoantes ou muito “vivos”. Faça isto especialmente onde a maior parte dos diálogos aconteça.
ASSISTENTES DE DIREÇÃO
Nenhuma desta ações terão sucesso se os assistentes de direção não apoiarem o SEU som no SEU filme. Ás vezes eles não apoiam! A equipe vai aproveitar a deixa para parar de cooperar conosco se ficar claro que o assistente de direção reage quando é preciso conseguir melhorar o som. Bordões negativos como “esperando pelo som” ou “é melhor dublar!” são improdutivos e minam o nosso espírito.
-
Tenha polícia para parar o trânsito sempre que possível.
-
Tenha “vigias de silêncio” no set. Não permita que ninguém ande. Mantenha seus assistentes de produção em locais chaves no lado de fora, e especialmente, embaixo de janelas. (Mantenha os assistentes quietos também) “Pare tudo” significa que não se deve ouvir qualquer barulho de trabalho de nossa equipe. Sem motores, sem papos, etc. Tenha acionada a prioridade no seu walkie-talkie para que você possa anunciar que está rodando o take em todos os canais sendo usados por todos os departamentos.
-
Permita que o Departamento de Som realize correções rápidas que sejam lógicas e razoáveis.
-
Estimula o elenco de apoio (figurantes) a fazer mímica das falas durante o plano.
-
Reserve um lugar e um tempo razoáveis para se colocar o microfone sem fio nos atores. Não adianta pressionar a equipe de som para andar mais rápido se o ator insiste em só ser “lapelado” no último segundo, no set de filmagem. E, inversamente, não peça para o microfonista ficar sentado do lado de fora do camarim desperdiçando tempo que poderia ser usado para resolver outros problemas sonoros no set.
-
Quando houverem ensaios fechados, tenha certeza de que o microfonista possa ver pelo menos um ensaio antes dos atores saírem do set.
-
Respeite os pedidos de repetição de textos em off antes de liberar os atores.
-
Respeite os pedidos de gravar sons ambientes dos sets antes de fechar um set e liberar a equipe, e pare com toda as conversas e movimentos. É muito importante gravar os sons ambientes antes que eles mudem.
-
Em locações infestadas de aviões, rode assim que terminar o som das turbinas e antes que outro avião chegue. Mantenha o set quieto o bastante para poder saber quando novos aviões virão ou irão.
-
Tenha certeza de informar o departamento de Som sobre os playbacks com pelo menos dois dias de antecedência. A produção deve providenciar um fita de playback com time-code aprovada pela finalização. Não espere que um CD ou fita K7 seja suficiente.
-
Desligue todos os walkie-talkies, celulares e pagers durante os takes e durante os ensaios. Eles podem fazer um estrago interferindo com os microfones sem fio (além de também poderem fazer muito barulhos - N. do T.)
PRODUTORES
-
Orce um terceira pessoa no Departamento de Som e a quantidade necessária de equipamento de áudio. Uma terceira pessoa é inestimável ao ajudar a resolver problemas de som durante aquele intervalo crucial entre takes e planos.
-
Não diga “não” para um custo adicional relacionado ao som sem levar em consideração também o orçamento completo da pós-produção.
-
Cheque se os teatros, palcos e estúdios de fato são silenciosos. Mesmo os mais novos e modernos palcos freqüentemente têm luzes com dimmers localizados tão próximos que viram um problema terrível.
DEPARTAMENTO DE CÂMERA
Assistentes de Câmera:
-
Quando há ruído de câmera, faça todos os esforços lógicos para abafá-lo, utilizando “barneys”, filtros, cristais, cobertores, apertões, etc.
-
Não fique ligando e desligando a claquete eletrônica porque isto vai gerar erro de time-code. Deixe o técnico de som saber imediatamente sobre qualquer problema que apareça na claquete eletrônica (Isto se aplica a qualquer pessoa que esteja operando a claquete eletrônica, e não só ao asistente de câmera - N. do T).
-
Deixe o técnico de som saber quais freqüências estão sendo transmitidas pelo equipamento de câmera no caso delas interferirem nos microfones sem fio ou nos comteks. Esteja pronto para desligar o panatape (equipamento das câmeras Panavision - N. do T.) quando ele causar interferência nos microfones.
Operadores de Câmera:
-
Proteja apenas a área do quadro de imagem a ser efetivamente usada e não mais do que isto.
-
Avise e resolva com o microfonista qualquer problema antes que o primeiro time seja chamado (Isto se aplica mais aos estúdios americanos onde é comum se preparar tudo antes de se chamarem os diretores e atores - N. do T.).
-
Tenha boa vontade para trabalhar coberto por um pano preto ou cobertor colocado sobre uma câmera especialmente barulhenta.
Fotógrafos:
-
Ilumine de forma a permitir o trabalho do boom por cima dos atores.
-
Não use lâmpadas Xenon a menos que o diretor tenha sido informado com antecedência de que toda a cena terá que ser dublada.
-
Nem pense em dizer “vamos dublar”! Isto não é prerrogativa do fotógrafo! Se o fotógrafo demonstra para a equipe que o som é importante para o filme, as pessoas seguirão o exemplo e terão mais atenção para com os problemas do som.
-
Quando filmar cenas em carros de verdade, tente levar em consideração os problemas sonoros, e iluminar de forma que as janelas possam ser fechadas quando possível.
DEPARTAMENTO DE EFEITOS ESPECIAIS
-
Faça um esforço para manter máquinas barulhentas longe do set, e cobertas quando houver diálogos na mesma cena.
-
Quando produzir chuva, coloque as máquinas de chuva e os caminhões de água o mais longe possível do set.
-
Use panos felpudos para reduzir o barulho de gotas de água nos telhados ou quando forem elas vistas através de janelas.
-
Quando um ventilador for usado para balançar cortinas ou plantas, combine como fazê-lo com o Técnico de Som antes que o problema sonoro apareça depois do primeiro take.
-
Quando fizer chamas, tente diminuir o chiado das fontes de gás.
-
Aquecedores ligados próximos de sets frios devem ser desligados bem antes de se rodar a cena para eliminar ruídos de estalos do filamento quando ele estiver esfriando.
-
Em câmera-cars, evite que os tripés de refletores chacoalhem e façam barulho.
FIGURINO
Quando solicitado, eles podem ajudar em colocar criativamente os microfones sem fio nas melhores posições possíveis no corpo dos atores. Não se devem fazer comentários negativos sobre o tamanho dos “calombos” que microfones sem fio criam em baixo das roupas para evitar que os atores fiquem impressionados. Pense em como evitar o ruído das roupas, especialmente se os atores principais forem usar o mesmo figurino na maior parte do filme.
-
Nunca permita que os atores usem roupas íntimas de seda, especialmente sutiãs. Camisetas de algodão devem ser colocadas nos atores embaixo dos figurinos para ajudar a prevenir ruídos das roupas roçando umas nas outras.
-
Gravatas de seda devem ser evitadas ou pelo menos, no caso dos atores principais que usam o mesmo figurino em muitas cenas, terem colocadas no interior delas uma camada de algodão.
-
Pense no som quando escolher colares, correntes, gargantilhas e outras jóias.
CONTRA-REGRA
Faça um esforço para manter os objetos e traquitanas o mais silenciosos possíveis. Especialmente nestes que são os problemas mais comuns desta área:
-
Com armas, sempre avise ao técnico de Som se a carga de pólvora seca é inteira, ½ ou ¼, e quantos tiros serão disparados e quando.
-
Com cenas de mesas, tente colocar um pano ou feltro em baixo da toalha de mesa para abafar o ruído de louça.
-
Use cubos falsos de gelo em copos de drinkes.
-
Em cenas de cozinhas, coloque um pano onde possa ocorrer ruídos de louças. Molhe com spray de água os sacos de papel de supermercados para diminuir o barulho deles.
ELÉTRICA E MAQUINÁRIA
-
Use bandeiras e gobos para cortar sombras da vara de boom.
-
Faça tudo o que for possível para reduzir ruídos de carrinhos e dollys. Coloque um tablado de madeira se o chão ranger. Use talco quando for necessário.
-
Use mantas e cobertores para matar ruídos que vazam através de portas e janelas.
-
Faça coberturas para máquinas barulhentas e ballasts.
-
Amarre ou prenda pontas que façam barulho no vento.
-
Mantenha o gerador o mais distante possível. Sempre use um mínimo de 50 metros de cabo do set até a primeira ligação, e continue daí para trás. Sempre que possível faça uma festiva para evitar o uso de geradores barulhentos.
-
Faça o possível para evitar que lâmpadas e ballasts fiquem zumbindo no set, e use extensões de cabo para manter o equipamento barulhento fora do set.
-
Coloque cabos sem impedir o fechamento das portas e janelas.
-
Use “variacs” no lugar de dimmers com problemas.
DEPARTAMENTO DE ALIMENTAÇÃO
Arme seu material longe do set, de modo que máquinas de café, microondas e outros aparelhos não possam ser ouvidos, especialmente em palcos e teatros.
DEPARTAMENTO DE TRANSPORTE
-
Planeje, quando possível, ter pessoas para empurrar ou puxar um veículo especialmente barulhento quando rodar os closes.
-
Estacione os caminhões o mais longe possível dos sets, e mantenha geradores individuais desligados durante os takes. Coloque a base de produção pelo menos a 300 metros de distância em lugares silenciosos como desertos e montanhas, 150 metros em cidades.
-
Mantenha os carros de cena silenciosos.
-
Esteja pronto para parar um caminhão em frente do gerador para diminuir o barulho.
-
Ao invés de ligar motores dos carros, use uma fonte de força alternativa silenciosa para veículos que precisarem piscar ou ligar luzes durante os planos e que estejam parados.
-
Recompense as companhias de aluguel de veículos que mantiverem seus carros o mais silenciosos possíveis. Verifique especialmente se o escapamento dos caminhões foi redirecionado para trás e se o gerador de bordo está silencioso.
-
Use apenas uma chave na ignição para eliminar o barulho do chaveiro cheio.
-
Não coloque glicerina e similares nos painéis e use um removedor para limpar locais que precisem receber os microfones.
-
Mantenha o interior dos veículos livre dos objetos barulhentos como correntes, vidros laterais removidos, porcas e parafusos.
ATORES
Para o Técnico de Som, um bom ator é um ator que fala alto e forte. Sempre que nos encontramos para falar de nosso trabalho comentamos como é boa a voz deste ou daquele ator. Atores que têm bastante experiência teatral geralmente aprenderam a arte de projetar suas vozes.
-
Não se recusem a usar um microfone sem fio se for necessário.
-
Não peça a um microfonista para sair da sua área de visão. ( Durante décadas se tem filmado com microfonistas trabalhando. Este é um perigoso precedente que recentemente começamos ver a acontecer)
-
Avise o departamento de som quando você for fazer uma cena muito mais alto ou mais baixo do que quando ensaiou.
-
Por favor, fale mais alto quando for pedido. Nós só pedimos isto quando é realmente preciso.
-
(Nunca retire o voce mesmo microfone lapela sem fio colocado em suas roupas. Deixe sempre que alguém da equipe de som o faça para voce. Estes microfones e seus cabos são muito delicados e caros e muitas vezes são colocados e retirados inúmeras vezes por dias de suas roupas. O manuseio inadequado devido à ansiedade em se retirar logo o microfone de suas roupas pode enfraquecer e acabar por romper o cabo do microfone lapela, e provocar prejuízos financeiros ao filme, além da perda de tempo precioso de filmagem para se consertar ou mesmo providenciar outro microfone - N. do T.).
DIRETORES
Colabore freqüentemente com o seu Técnico de Som como você faria com um editos, compositor, diretor de fotografia ou com um roteirista. Nós também podemos enriquecer a sua “visão” através de imagens sonoras. Descubra quais são os problemas do som e que soluções existem. Não caia na armadilha de odiar quando o Técnico de Som se aproxima porque você acha que ele só trás más notícias. O seu Técnico de Som vai sentir a sua energia e aos poucos vai começar a lhe falar cada vez menos até que o som não será mais uma parte vital de colaboração do seu filme.
Uma boa relação com o seu técnico de som vai lhe dar informações sobre o que está bom e o que mal dá para se aproveitar. Se você simplesmente confia que o seu Técnico está captando um bom som, você pode estar enganado. Sempre é possível que o Técnico de Som tenha desistido de lutar a batalha do som contra a maré e sucumbiu à falta de qualquer resposta positiva aos seus esforços.
Muitas vezes problemas de som não são percebidos até o último minuto, quando os outros departamentos terminaram seus trabalhos e o set está finalmente silencioso o bastante para se escutar detalhes do som pelos microfones.
A cena as vezes evolui para um problema de som que não foi previsto. Também é preciso um momento ou dois para fazer ajustes quando mudanças criativas foram feitas na hora. Você goste ou não, o som é parte do seu processo completo de fazer um filme, da pré-produção à filmagem e à finalização. Você pode muito bem fazê-lo direito. Se você passar esta mensagem às suas tropas desde o começo, você vai se liberar para gastar mais tempo qualificado com outras áreas de pressão da filmagem.
Lembre-se que certos membros da equipe como diretores de produção e assistentes de direção são levados a ver exclusivamente seus próprios orçamentos (e necessidades), e não levam em conta o orçamento completo do filme, incluindo a finalização.
A diferença entre bom som e mau som em muitos filmes representa apenas mais 5 a 10 minutos de trabalho por dia, fazendo alguns ajustes aqui, colocando mais um microfone escondido, mudando um microfone sem fio ali, abafando os sapatos, lubrificando um rangido de porta, captando som ambiente, uma manta de som bem colocada, desligando aquela máquina que ligou durante o plano, colocando talco numa roda de dolly, etc. Geralmente, quando o take finalmente vale, os problemas de som já foram resolvidos. Se não, pode ser necessário rodar mais um take. Assistentes de Direção ou outros que impeçam este processo podem lhe custar bem mais caro na Finalização.
-
SOBREPOSIÇÃO (OVERLAP) DE FALAS – Quando possível, é sempre melhor que não haja overlaps de falas dos atores, a não ser que seja absolutamente necessário, porque você só pode estar num plano ou no outro. Você pode decidir mais tarde que você quer ver ambos os lados do diálogo. Lembre-se, é muito fácil criar um overlap fora de câmera se você ainda o quiser. Normalmente existem overlaps de texto simplesmente porque se pensa que a performance dos atores será prejudicada. Este argumento perde credibilidade quando o rosto de um dos atores que têm as falas sobrepostas não puder ser visto de forma nenhuma. É claro que existem momentos que overlaps precisam acontecer e que ambos os lados devem ser microfonados.
-
Filmando com duas câmeras – Há uma maneira correta para se filmar usando duas ou mais câmeras e uma incorreta. É perfeitamente aceitável se trabalhar usando duas câmeras com aproximadamente o mesmo enquadramento ao mesmo tempo. O pesadelo do Técnico de Som é quando se utilizam duas câmeras, uma com o enquadramento mais aberto e a outra mais fechada, ao mesmo tempo. Isto implica em haver um comprometimento do som, porque todos os atores deverão usar microfones lapela sem fio, já que o quadro mais aberto não permite que haja entrada de microfone para cobrir o quadro mais fechado. Isto pode ser resolvido se a segunda câmera filmar apenas os atores que não falam, ou se ela não rodar durante os planos mais abertos. Depois, filme com as duas câmeras todas os planos de cobertura.
-
ENSAIOS – São muito importantes para toda a equipe. Tudo bem haver ensaios fechados para os atores apenas, mas faça pelo menos um para a equipe, e deixe o microfonista também ver pelo menos um. Caso contrário, nós só podemos adivinhar onde e como vai haver sons na cena. As palavras que mais nos incomodam são “vamos rodar o ensaio”. Você pode ter sorte, mas não rode ensaios a menos que você queira um maior número de tomadas por causa do som, para podermos resolver problemas inesperados.
-
“CACOS” – É impossível microfonar falas que ninguém sabia que iriam acontecer. Se você quiser improvisos, faça outro take para o som se não captarmos o diálogo da primeira vez.
-
TRÁFEGO AÉREO – Provavelmente o problema de áudio mais frustrante no set é estar numa rota de tráfego aéreo. É um problema que poderia ser evitado por uma escolha melhor das locações. Você sabe que não é bom, nós sabemos disto, toda a equipe sabe que não é bom. No entanto, depois de um tempo, você não tem escolha senão começar a rodar os takes de qualquer forma. Neste caso, mais do que optar por dublar, é muito melhor rodar as seqüências com vários planos curtos e limpos que possam ser montados mais tarde.
-
ATORES QUE FALAM ALTO - Algumas vezes nós realmente precisamos que os atores falem mais alto para salvar uma seqüência. Em seqüências barulhentas como em bares lotados ou bolsas de valores, é melhor que os atores falem exageradamente alto. Caso contrário, o som do texto recolocado na pós será muito leve, e não permitirá que se acrescentem os sons de fundo que vão faze-lo parecer real.
NOTAS FINAIS
Em qualquer tempo a chave do som é a palavra “razoável” (“reasonable” – em Inglês literalmente “razoável”, no sentido de razão, e não no sentido que usamos mais comumente no Brasil, de “aceitável”, “passável”. “Lógico” e “o possível” são duas boas alternativas - N. do T.). Esforços razoáveis deveriam sempre ser feitos para fazer todas essas coisas num tempo razoável. Não queremos tomar conta do set e fazer o filme, só ter um bom som. Também não queremos sentar quietos num canto enquanto suas pistas sonoras são feitas em picadinho.
Estamos pedindo apenas para voltar um pouco atrás, num tempo onde tudo isto era uma prática comum. Não vamos discutir porque isto aconteceu, mas não há dúvida de que uma atitude anti-som prevalece. Aquilo era então, e isto é agora. Ser um político no set é muito importante, mas o seu som não deveria ser obrigado a passar por tais discussões verbais.
Não diga ao seu Técnico de Som que você odeia dublar a menos que você esteja pronto para dar uma retaguarda para ele com o seu apoio no set.
Hoje, é sua responsabilidade pedir um som melhor para o SEU filme. Isto pode facilmente ser iniciado no primeiro dia de pré-produção. Dê a todos os chefes de departamento um memorando e uma instrução verbal de que você quer que sejam feitos todos os esforços razoáveis para se conseguir um bom som no SEU filme.
Não estamos pedindo por poder no set, só por um pouco de respeito pelo seu som. Com o seu novo apoio, prometemos agir de forma razoável sempre e não esperar que o som seja a parte mais importante do filme. Sabemos que haverá momentos em que o som terá que ser dublado, após ser levado em cuidadosa consideração. Também não queremos que ele seja subestimado. A palavra “razoável” se aplica em todas as situações.
O mais importante: encontre tempo para se comunicar com o seu Técnico de Som, porque você precisa saber se você está tendo o melhor som possível.
Escrevemos esta carta porque queremos que o som do seu filme seja excelente! Ele viverá para sempre e nós queremos sempre ter orgulho de que nosso nome está nos créditos do seu filme.
Sinceramente
Seu Departamento de Som
Mais informações? Mande um e-mail diretamente para mim. John Coffey [email protected]
3 de Novembro de 2000